segunda-feira, 28 de março de 2011

Uma história

Nasceu no interior do sertão
Uma menina franzina, morena
Com os olhos verdes...
Seu pai, que nada entendia de ciência
Mas era muito ciente da vida
Chamou-a Esperança.

A menina crescia em idade
Mas permanecia pequenina
Reflexo da fome que sentia,
Da sede que enfrentava;
Seus irmãos morriam
Ela lutava.

Um dia, um desses programas dominicais
Em suas reportagens moralizantes
Encontrou a menina
(Já de seus doze anos)
Na casinha em que vivia
(Vivia?)
Antevendo a emoção que causaria
O infeliz trocadilho com o nome da menina
Exploraram sua imagem, sua condição
Transmitiram sua carinha frágil para todo o país
E seus olhos, fascinantes olhos opacos e verdes
Sensibilizaram empresários quaisquer.

A menina foi levada à cidade grande
Onde recebeu brinquedos, roupas e cestas de comida,
Ganharam um lar decente na grande cidade,
Uma escola para a menina,
Um trabalho para o pai,
Seus pais, fracos de felicidade, choravam,
Poderiam enfim sustentar o recém-nascido...

Eis que numa tarde, de volta ao anonimato,
A menina, em seu aniversário de treze anos,
Não volta de sua escola
Os pais, desesperados, procuram a emissora de TV
Seqüestro? Fuga? O caso mobiliza o país
"Onde foi parar Esperança?"
Seu rostinho, seus olhos de mar
Aparecem em cartazes, jornais, noticiários,
Grupos criminosos diferentes ligam exigindo resgate
Mas nada de prova de vida...
Cadê a menina?

Agora, caro leitor, apresento-lhe a verdade:

A pobre menina, indo para sua casa,
Foi encurralada por um grupo de rapazes violentos
Atraídos, possivelmente, pelo bom nome da escola
Estampado em seu uniforme
A pobre, cercada no meio de uma ponte de concreto,
Nada poderia fazer
Os rapazes, alterados, exigiram-lhe os tênis,
O relógio,
A mochila,
O dinheiro,
E mais, muito mais...
Ela deu-lhes o tênis, o relógio, a mochila e o dinheiro
Mas, por Deus, que não lhe exigissem mais!
Virou-se e correu, achando uma brecha entre dois criminosos,
Um tiro varou o ar parado e frio do fim de tarde
Expirara a última que morre
Vencido, seu corpo inerte caiu da ponte
E mergulhou nas águas escuras para nunca mais.

Uma risada seca... um palavrão...
Sua elegia.

Naquele mesmo momento, a milhares de quilômetros dali,
Nascia uma menina de olhos verdes...

Menkalinan (27/02/2006)

(Pra variar o post continua, clique abaixo...)

Continuo postando os textos por ordem cronológica; portanto, este foi o segundo que publiquei. Definitivamente esse não é o meu estilo, por isso admito que não gosto muito dele... costumo me focar muito mais em emoções que em narrações. Mas enfim... também não desgosto dele. No fundo, o poema passa uma emoção estranha justamente por ser assim seco... ah, sei lá, pelo menos me passou agora que o reli.


Ooolha, tem um trema perdido ali! Saudade...

Aconteceram coisas relevantes nesse tempo que passei sem atualizar. Finalmente tive a primeira aula, e tudo o mais. Na verdade, não fosse a preguiça de postar, eu teria falado disso e estaria "em dia". Contudo... hoje não estou a fim de falar de mestrado.

Sim, hoje não teremos uma seção "Off Junkies" porque a postagem inteira será off! Vou me permitir registrar aqui uma emoção muito grande que tive há alguns dias - como o relato vai ser gigante, não dá pra falar de outro assunto extenso. Na próxima postagem prometo falar sobre o que vocês querem saber (ou não), o mestrado.

Quarta-feira, 16/03/2011. A noite em que vi o Palmeiras jogar pela primeira vez.

Quem mora em grandes centros - ou tem facilidade em viajar para cidades mais "futebolisticamente favorecidas" - talvez não entenda a ansiedade que me acometeu na manhã daquele dia. Desde que saiu a tabela dos jogos da Copa do Brasil e eu vi o possível cruzamento, pensei muito naquele jogo. Imaginem o que senti sabendo que naquela noite finalmente veria o meu time do coração de perto.

Aliás, a cidade inteira parecia respirar aquele jogo. Não se falava em outra coisa, e o que mais se viam eram camisas do Palmeiras (e algumas do Uberaba) circulando pelas ruas. E não era pra menos! Fazia 57 anos que o alviverde, time do uberabense de coração Djalma Santos, não pisava por estas bandas - imaginem, meu pai nunca viu o Palmeiras jogar aqui (não que fizesse diferença pra ele, que não é palmeirense, mas...).

Acordei ansiosa também por um possível problema. Meu pai comprou meias-entradas para todos, inclusive eu. Só que eu ainda não tinha o crachá da Universidade, e ninguém me respondia com certeza se uma declaração de matrícula valeria (a maioria achava que não). Portanto, fui à secretaria da Pós-Graduação rezando para que o crachá estivesse finalmente pronto...

Bete, meu anjo da guarda! Ele estava! Tinha chegado justamente naquela manhã, bem no Dia D (ou P)! A Bete (ops, fazendo as apresentações... ela é a secretária do curso) disse que realmente todos estavam correndo atrás desse crachá sagrado por causa do jogo. Enfim, com os passos mais leves e um sorriso no rosto, peguei o crachá e saí...

Pois é, só que tinha um "pequeno" problema que estava me incomodando naqueles dias... o tempo. Não havia previsão de chuva para o jogo, mas chovia muito naquelas duas semanas (aliás, ainda chove todos os dias, embora pelo menos de manhã o céu esteja lindamente azul. Bem-vindo, outono!). E então, conversando com o porteiro da facul, perguntei a ele onde se vendiam capas de chuva mais baratas. Ele só sabia daquelas capas amarelas horrorosas (que combinariam perfeitamente com o uniforme amarelo fluorescente "verde-limão-mutante-fluorescente" do Verdão, odeio aquela camisa! Aah, odeio amarelo!)... que custavam R$ 15,00 no Mercado Municipal. Claro que isso soou como um crime a uma taurina muquirana econômica como eu, já que ainda teria de comprar as capas dos meus irmãos. Optei por não comprar.

(Curiosamente, uma mulher no ônibus com a camisa do Uberaba me ouviu falar sobre capas ao telefone e me perguntou se eu sabia onde comprar. Parecia que todo mundo iria ao jogo. O gerente do estabelecimento onde comprei apresuntado e muçarela - sim, muçarela é a grafia correta... bizarro, né? - estava desesperado ao telefone querendo encontrar alguém que o cobrisse naquela noite)

Em casa a surpresa. Minha avó, ao receber meu telefonema ainda no ônibus, foi tentar ver onde se compravam capas mais em conta. Acabou por encontrar uma loja de artigos para pesca (por que não pensei nisso antes??) com capas de R$ 3,50 (bem vagabundinhas, mas dariam pro gasto). E, por termos encomendado mais de três, eles ainda entregaram aqui em casa. Ô beleza, hein? Segundo o rapaz da loja, as capas estavam vendendo como água - realmente, todo o mundo só pensava no jogo... o melhor de tudo é que elas eram transparentes, de forma que eu poderia exibir orgulhosamente a camisa do Valdívia (que é do meu irmão, mas ele me emprestou e usou a outra dele...).

Era por volta de duas da tarde e o céu desabou. Sério. A coisa foi feia. Teve enchente, cratera em asfalto, raios e tudo a que tinha direito. A chuva prosseguiu pelo resto da tarde, indo noite adentro... e a gente olhando pro céu e se perguntando se haveria condições de jogo.

Às 19h30 eu já estava pronta, ansiosa e aguentando as recomendações da minha avó. Pra ela, estádio não é lugar de moça (ainda mais mestranda, e talz). Portanto, fui instruída a não gritar, não xingar, não me exaltar, não me mexer, enfim... a agir como uma verdadeira lady. E quem me conhece sabe que eu obedeci direitinho... - not!

Devido a algumas complicações, só saímos de casa depois das 20h. Como ainda chovia fraco, fomos de capa, mesmo - moramos a poucas quadras do Uberabão, portanto fomos a pé. Meu irmão palmeirense (o do meio) e eu ficaríamos na torcida do Palmeiras (lógico!), enquanto meu irmão caçula (são-paulino) e meu pai (santista/botafoguense... sim, família estranha) ficariam na torcida do Zebu. Fomos circundando o Uberabão, desviando de centenas de cambistas e vendedores de bandeiras, e finalmente chegamos ao portão destinado aos palmeirenses. E entrei no Uberabão pela primeira vez...

A primeira impressão que eu tive foi que o campo era muito menor do que eu imaginava ao assistir os jogos pela TV. Não sei se a impressão em um estádio grande é diferente... bom, meu irmão e eu encontramos um bom lugar, quase centralizado, de frente para as cabines. E percebemos que a previsão do tempo, quem diria, estava correta: poucos minutos após nossa chegada, parou de chover. Não caiu uma gota sequer durante a partida.

Não que fosse necessário... o gramado estava um verdadeiro pântano. Dava pra ver algumas poças, mas o real estado do campo só foi perceptível ao ver a dificuldade que as poucas pessoas ali - comissão técnica, e talz - tinham para caminhar. Mas ninguém ali se preocupava realmente com aquilo. A torcida cantava o hino do Palmeiras e gritos de guerra, numa tentativa de intimidar a torcida da casa (que já ensaiava um "Ei, Palmeiras, vai tomar no c*!"). Obviamente saímos em vantagem, já que "Zebu" dá uma rima bem mais bonitinha... (aliás, zoar mascote do Uberaba fatalmente cai no clichê do "chifrudo"). De qualquer forma, apesar de um bom número de colorados, a torcida palmeirense era maioria (como já era esperado). Ah, aquela sensação! Olhar ao redor e ver uma massa de palmeirenses cantando junto... e os times nem tinham entrado em campo! Chegou um momento em que pensei em me poupar, pois queria ter voz pro jogo. Quem acha que consegui? E até que aguentei, mesmo sem ter sequer uma garrafinha d'água por perto.

(Aliás, momento fail: meu irmão e eu nos esquecemos de um fato crucial... não pudemos consumir nada porque a grana estava com o nosso pai! Que estava do outro lado do estádio, em meio à torcida adversária...)

Acho que a ficha só começou a cair mesmo quando vi o Deola e o Bruno entrando para se aquecerem. Caraca, o DEOLA!!! Lindo, fofo, tudo de bom! (Momento fangirl off) Lamentei o fato de São Marcos, meu ídolo-mor, não ter vindo... mas paciência. Deus há de querer que eu assista pelo menos ao jogo de despedida dele.

Claro, se a ausência de São Marcos era provável, a do Mago não se confirmou. SIM, ELE VEIO!!! E adivinha quem estava na arquibancada se esgoelando por ele? Euzinha, é claro. Claro, além do Valdívia também segui o coro pro Gladiador, pro Assunção e pro Luan. A torcida tava na maior lua-de-mel com os jogadores...

(Daí eu ficava imaginando o que diria a minha avó se tivesse ido... como eu não tinha levado um cartaz de "Dança, Renata!" ou "Casa comigo, Neto!", acho que não apareci na TV).

Oh, e o Felipão, outro ídolo meu de anos! Assim que ele apareceu a torcida começou a gritar em peso "Fica Felipão!". Isso se devia à promessa de um candidato à presidência do Sporting (de Portugal) de levar Felipão de volta ao clube lusitano... posteriormente esse cara desistiu falando de uma proposta irrecusável do Fluminense... claro, felizmente Felipão continua firme, forte... e nosso!

Tá, o jogo. Foi uma verdadeira várzea. O campo estava encharcado, horrível, a bola não rolava. Os uniformes dos jogadores (o Palmeiras com aquela camisa "cheguei" bisonha, aiai...) ficaram imundos. Os ataques não rendiam muito, pois a piscina o campo parava as enfiadas de bola. E o que tinha de jogador (principalmente do Uberaba) escorregando...

Isso não impediu algumas jogadas geniais. O Verdão ganhou por 4x0, com dois gols de Luan e dois de Kléber (o último de voleio, que beleza!), mas o show ia além. Fintas, canetas... Valdívia e seu famoso chute no vazio ali, diante de mim! E a gente gritava e vibrava... dava força... nos raros momentos em que o Uberaba chegava, aplaudíamos as excelentes defesas do Deola... foi mágico...

Engraçado que, no intervalo (a gente já tava ganhando de 3x0), meu irmão caçula enviou uma mensagem de celular, lá da torcida do Uberaba, provavelmente a pedido do papai. Queria saber se meu irmão palmeirense e eu estávamos bem. E eu respondi "Tudo ótimo!". Bom, com certeza estávamos bem melhor que eles, huahuahua! (Ok, isso não foi legal...)

Valdívia foi substituído em meados do segundo tempo para se poupar, já que o campo estava muito pesado e ele ainda não estava totalmente recuperado da lesão. Saiu ovacionado pela torcida... daí eu e mais alguns começamos a puxar "VALDÍVIAAAA! VALDÍVIAAAA!", e o pessoal acompanhou! Foi lindo mesmo... e ele acenando pra gente... puxa...

Teve "Olé", claro... um pouco mais pro final, a torcida do Uberaba resolveu provocar e começou a gritar "Olé" também, em uma curta sequência de passes do Colorado. Pra quê! Os infelizes já estavam perdendo de 3x0, sendo eliminados da Copa do Brasil sem direito a jogo de volta, e ainda estavam zoando?! Ah, não pra cima de moi! A galera alviverde não deixou por menos e respondeu com um sonoro "E-LIMINADOOOS! E-LIMINADOOOS!" que calou os colorados. Até tive um dozinho deles... -not! E o Uberaba ainda levou mais um do Gladiador, de voleio, pra largar de ser besta! Hunf!

("Olha que gracinhaaa... o Zebu virou vaquinhaaaa!" Claro que dá uma certa chateação ouvir isso do time que representa a sua cidade, maaas...)

Jogo acabou, vibração, jogadores saindo de campo (Gladiador tirando a camisa enquanto dava entrevista...), a torcida aclamando cada um deles, até o Felipão. E o Deola cruzando o campo pra poder chegar ao vestiário, coitado, foi o último a sair... claro que voltamos a gritar por ele. Daí ele olhou pra gente, feliz, e bateu no peito, sobre o coração, agradecendo a torcida... aaah, ele não é fofíssimo??? (Tá, parei).

A saída foi meio melancólica, já que o grosso da torcida do Palmeiras tomou um rumo oposto à nossa casa, então ficamos na nossa, sem manifestações de alegria perto dos desalentados torcedores do Uberaba. Reencontramos nosso irmão e nosso pai e retornamos para casa...

Levei bem uma meia hora pra dormir, virando de um lado pro outro na cama. Estava elétrica. E pensando na próxima vez...

Daí vocês vão rir de mim. Oras! Uberaba x Palmeiras nem foi um clássico, nem se esperava muita dificuldade (detesto quando menosprezam o Uberaba, mas é a verdade), por que estar tão radiante com uma goleada que seria o mínimo a se esperar?

Mas que se dane a razão! Que alegria ver uma goleada do nosso time de perto! Ver nosso time do coração pela primeira vez e justamente em uma noite feliz! Isso bastou pra mim, eu acho.

Termino o post agradecendo aos comentários:

Mári: que saudade! Amei seus comentários (tô me sentindo, agora...)! Infelizmente não deu pra nos vermos naquele dia, mas logo dá certo! A gente come um bom pastel lá no Dom Pastel, huahuahua! (Nem devia, eu tô engordando, maaas...) E coloca a conversa em dia. E vou seguir seu blog! Já disse que amo as suas... hum... é tão difícil chamá-las de "bijuterias"! Prefiro chamá-las de "obras de arte", mesmo. Orgulho da minha amiga artista!

- Carol: Sempre por aqui, adorooo! Minha amiga são-paulina do coração... deve estar toda radiante com o gol do Ceni... aff! Pior que o único lance do jogo que eu vi foi justamente esse, e por pura coincidência (eu tava passando na hora), huahuahua! Espero que goste deste texto, também...

Kissus a todos!


P.S.: Depois da minha fase Loreena McKennitt, agora estou viciada em Marcus Viana. Culpem o meu vício em "O Clone"! Mas que se dane, é uma música mais linda que a outra... apaixonante!

P.P.S.: Corrigi o fuso horário das postagens. Estava realmente me incomodando.

P.P.P.S.: Momento nada a ver: OH, WAIT! Ontem foi o níver do meu cavaleiro de ouro favorito, Mu de Áries (Cavaleiros do Zodíaco nunca morre...)! Aêêê, parabéns ao carneirinho! (Tá, podem me internar agora...)

P.P.P.P.S.: Talvez a música tenha me deixado um pouquinho mais melancólica hoje (bom, "ontem"). Imaginem uma pessoa com a qual você se comunica todos os dias, embora viva a quase mil quilômetros de distância. Se ela some dois dias sem aviso nem nada... é normal sentir uma certa carência, não é mesmo...?

*Ou uma vontade de procurar... por meios que talvez você não devesse usar, mas que parecem simples e óbvios... quebrar uma espécie de tratado de privacidade, uma regra implícita jamais questionada, um Muro de Berlim... tentando sanar uma saudade do que não é do corpo, saudade de alma só. Desejo só.

** Sou bipolar?

Um comentário:

  1. Muçarela??? Continuarei escrevendo errado. hehehe
    Como assim estádio não é lugar pra mocinhas?!?!?! Até imagino vc lá no Uberabão...certeza q só dava a Luísa!!! hahaha

    Adorei o post...dei várias risadas!!! Entendo bem essa emoção...é algo viciante e inexplicável!!! Espero q ainda tenha mtas e mtas noites dessas!!! Na verdade, nem tantas, né?! hauahaua

    Bjooooooooo

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